O 24º Congresso Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem (CBCENF) recebeu nesta terça-feira (13/9), com transmissão pelo CofenPlay, a 5ª edição do Encontro Latino-Americano de Enfermagem em Saúde Mental. Como ponto comum das discussões, foi realizada uma abordagem da mitigação do sofrimento e promoção da qualidade de vida do usuário do sistema de saúde mental nas diversas condições e transtornos.
O encontro teve início com um painel que tratou do acolhimento das vozes, para além da delimitação que enquadra tais estímulos necessariamente como transtornos psiquiátricos. Foi realizada uma atividade lúdica para ouvir as “vozes” internas entre os participantes e normalizar sua ocorrência. “Nem sempre quem ouve vozes está em sofrimento. Se o usuário falar desta sua loucura, está em crise. Mas é crise de quem? crise do usuário, crise do sistema ou crise da família?”, indagou a palestrante Ethelanny Leite.
O encontro seguiu com a exposição que tratou das condições relacionadas ao envelhecimento. Os palestrantes explicam que pessoas com 85 anos ou mais têm a maior taxa de suicídio de qualquer faixa etária. “Muita gente acha que idoso só tem alzheimer ou demência, mas eles têm outras coisas, alguns perderam amigos e filhos. Um entre cada quatro idosos possuem algum transtorno mental”, explica Jaqueline da Silva.
Durante o debate sobre saúde mental entre idosos, com exposição dos fatores que levam às doenças mentais do envelhecimento, como o mal de alzheimer, foram apresentados resultados de um estudo de Enfermagem com dezenas de idosos para determinar os marcadores que levam a estas condições e como retardar o desenvolvimento das suas condições. “Quem se beneficia de estímulo cerebral são os idosos frágeis, ainda não doentes, idosos frágeis podem retardar esta progressão”, explicou o painelista Mário Vieira.
Na exposição seguinte foi tratado do atendimento de usuários do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Tendo sido abandonadas as definições de asperger e autismo desde 2014, foi apresentada a definição do espectro autista, bem como os riscos maiores de cometimento de suicídio dentro deste universo. “São 47 possíveis diagnósticos de Enfermagem possíveis no TEA para o indivíduo, além de outros dez para a família”, alertou Cleide Oliveira, a enfermeira do autismo, como se define.
A convidada seguinte veio de Córdoba, na Argentina, para falar de sua experiência com uma política que teve início a partir de uma lei de abordagem comunitária na saúde mental. “Saímos de um modelo fechado de consultório psiquiátrico, de um consultório de psicologia para termos um território aberto para o cuidado, sem etiquetas diagnósticas desde um conceito familiar”, disse Beth Sandagorda.
Outro ponto debatido foi a abordagem da inclusão familiar nos problemas de saúde mental para a promoção da felicidade de todos os envolvidos com o paciente com distúrbio mental, melhorando resultados. “Tradicionalmente, na abordagem manicomial, a família é excluída para proteger do estigma, o que agrava sintomas”, declarou Maria Mota.
O dia foi encerrado com uma exposição que relacionou a violência contra usuário do sistema de tratamento de transtorno mental e sua família. Foi abordada a forma de violência econômica e também a de gênero como um fator de agravamento das condições. “Por sorte estamos mudando a mentalidade manicomial, lutamos para mudar o paradigma, mas não basta só uma declaração internacional para que todos subitamente sejamos considerados mais humanos”, declarou Juan Alcaraz, convidado do Paraguai.
“Temos de nos acostumar com a linguagem de gênero se queremos seguir numa luta contra a discriminação e contra violentar a identidade destas pessoas”, asseverou Claudio Mann.